O que ressoa em mim.

04/04/2012 18:21

 

               

                A aula começou com o seminário apresentado por duas duplas, onde foram expostos textos conhecidos e desconhecidos. É sempre bom ter esse contato com coisas novas, autores de obras não conhecidas. Foi lindo ler o texto de Lucinha Moreira. Lembrei de minha infância, senti o cheiro da cama dos meus pais, da época quando tinha três anos e acordava de manhã bem cedo e me intrometia entre eles, sentindo o quentinho das cobertas amassadas.

            A segunda parte foi composta pela apresentação dos trabalhos dados aos alunos na semana passada. O exercício consistia em montar uma cena em cima da história do seu nascimento, sendo necessária a utilização do lençol onde está desenhada a nossa árvore genealógica. Uma grande parte da turma executou os seus solos de maneira “cômica”, tentando fazer da cena um grande show do riso. Eu tenho um tom de aversão quando vejo atores que se vendem para o público. Foi somente isso que assisti, com exceções de alguns trabalhos. Me senti incomodado, como muitas vezes me sinto em outras aulas também. A turma parece estar sempre clima de “oh happy day”, aplausos toda hora, risinhos, piadinhas... Chega um momento que tudo isso me causa um grande desconforto quanto artista e também licenciando. Não estou expondo isso para gerar situações, mas sim para, talvez, conscientizar as pessoas que estão encarando esse curso como uma brincadeira/hobby/terapia que, para muitas pessoas que estão ali na sala de aula, teatro é algo sério e que esse é o “meu sagrado”, que não admito desrespeito com o meu ofício.

            A Wlad fez várias observações e pontuou muita coisa que, por mais que tenha sido direcionada para algumas pessoas em específico, eu consegui sentir ressoar em mim. Certa vez, ouvi falar que um bom ator é aquele que não está atento somente no que é dito a ele, mas sim a tudo o que é dito. Quando ela aponta a percepção dela sobre o trabalho do aluno Erick David, sinto refletir em mim diretamente.

            É sempre muito difícil falar do que me consome, da base familiar partida e de outras feridas que se camuflaram durante o tempo. Não doem mais, todas estão cicatrizadas. Porém, quando são jogadas para fora, é como se depois de muito tempo eu caísse de joelhos após uma tentativa de corrida mal sucedida, e se abrissem feridas sobre as que já estavam curadas. Não sei aonde tudo isso irá me levar, mas sei que eu já tirei muitas coisas boas das minhas dores e acho que é para isso que elas me servem, por isso constantemente tento corridas mais arriscadas, em busca de novos corte e arranhões nos joelhos marcados pelo tempo.

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